A água fria
Nunca como
Outrora esteve
Porque o presente
No passado
Nunca existirá
Tal como tu.
A água quente
Nunca como
Outrora esteve
Porque o presente
No passado
Nunca existiu
Tal como tu.
A água amena
Nunca como
Outrora esteve
Porque o presente
No passado
Não existe
Tal como tu.
É na envolvência
Pura cristalina
Líquida incolor
Imaculada
Que
Me apercebo da tua existência
Tal presente
É na envolvência
Pura cristalina
Líquida incolor
Imaculada
Que
Me apercebo da tua existência
Tal passado que nunca tinha existido ou que existirá
Os tempos mudam
A sua essência
Tua
Não
Porque os ciclos
Artimanhas
De outrem
Aniquilam ser estar
Puro sonho
De mim
Líquido
Sonhador nato
Nadador do olimpo
Aspirante a nada
Que não teu domador
Mas tu nunca exististe
Tal como eu
Impedido de viver
A vida morto
Vi passar
Vivo
Morte espero
Porque na noite em que nasci
A lua era grande e redonda
Vermelha fogo
Ardia
E podia sonhar
Que estava aí mesmo
Estando a um milhão de milhas de
Distância
Agora as aves zumbem
Sonhar não
E eu flutuo pelas águas vivas
Morto
Com o teu retrato
Bem aprisionado aos meus olhos
Que nunca existiu
Tu
Nunca
Exististe
Sei que nunca exististe
Saberás tu
Bem sabes da minha existência
Estou abraçado a ti
Bem sei que sabes que sei que estou abraçado a ti
Nunca nenhuma merda se resolveu sozinha
Nem nunca se resolveu merda nenhuma,
Só
Não digo, tenciono
Exequível não,
Pueril sou.
Fodido é não ser, sendo
Mais fodido é ser, não sendo.
As janelas já nem sequer existem:
Não há paisagens, não há campos
Não há vento nem há puta que vos pariu a
Todos.
Invisual,
Fodido é ver
Crendo o que se quer,
Querendo o que se quer crer.
Existir por crer querer acabar ali,
Enquanto a nossa existência se estrangula
Por não acabar
Aqui.
A voz…
Ah, a voz…
Oh Oh Oh, a voz,
Essa filha da puta que se cala sempre
Falando,
Até se emudece de
Tanto
Haver p’ra dizer.
Bomba-relógio, boom
Soluçar e gaguejar.
Os olhos explodem,
Gritam aquilo que a voz cala,
Desnudam-nos,
Como flores tristes que rebentam durante Primavera.
Os pássaros já nem voam
Por
Voar,
Já nem cantam o canto
Que cantavam e que tão bem se vestia
Nos nossos ouvidos;
O canto é menos doce
E menos livre, menos
Sedutor.
O paladar da Primavera já foi menos agreste
Agora,
As lágrimas ácidas me
Percorrem
O rosto.
Deterioração.
Meneio-as,
Len-
-Ta-
-Mente,
Como se a vida fossem
5 segundos.
Não o são,
Resta a Eternidade para a viver.
Dor, amargura.
A Primavera já nem existe,
Pelos menos por agora
Que ainda vamos no primeiro mês,
Mas as merdas ainda as existem
E nem com o luzir das mais belas flores
E com o canto do mais belo pássaro
Só
As resolvemos
Sem que acabemos
Pela parte
Connosco
Ali e acolá.
Já não sei onde vou,
Fui deslustrado do calendário
Da vida.
Vivo
Morto
Por seus capítulos
E nem os aromas perfumados
De março
Evitam o vómito
Fruto
Do cheiro à merda
Que a filha da puta da vida às vezes nos dá.
Que chegue a Primavera.
Paro por estas bandas apenas para dizer-vos o seguinte: ESTOU DE FÉRIAS, CARALHO!!1!!
O maior mudo é aquele que cala a mão.
Corre a água pela Fonte,
Barulhando perto ao longe,
Triste e pálido mato meio sem Graça.
Sequiosa, a boca, comanda-se emudecida
Pelo calor da fachada
Que esconde o estro ingénito
Que acende e apaga a luz do meu ser.
Temos todas as razões para viver,
Mas falta-nos sempre uma razão para reparar o mundo.
Porque o mundo é ingente e pequeno,
Vê-se sempre perto de longe.
Brotam-se ideias e pensamentos,
Mas é certo que nunca se exuma como deve ser.
(Estará o solo insalubre?)
A água, pura, esvai-se
Pelo desejo ávido
Que mescla cada pedaço de mim.
Já nem me acho,
Deslustradas, as fotos
Que me pediram.
(Pena, os traços do rosto que se espelham na água)
O gesto inócuo nunca me há-de dar a conhecer o incognoscível.
Fosse, talvez, o mundo feito de insipidez
E fossem os dias resumidos a flores, sol e Primavera.
Fosse eu a tua sede e água da Fonte a tua boca,
Porque assim, num gesto vão, estaríamos conchavados.
O (nosso) mundo não é a fachada que pintamos.
Despe a carne o medo,
Lúcido,
Em passos estagnados
Pelos pés à corda atados.
(Porque o mundo despido é da cor que o vês.)
Falasse a mão,
Ou cantasse.
Porque nem as letras se lêem a si próprias,
Nem os números se somam sem um operador.
(Porque desnudo tudo é cru e verde e eu gosto ser racional e esquecer a razão.)
Porque eu podia gastar a minha garganta com o espelho,
Que ele não me falaria.
Porque imagem é crença
E o medo é teima
Que sidera a doença.
(Porque os ecos voam daqui para acolá e num dia mau consegue-se vê-los para sempre.)
Quem me dera ser um pequeno Caeiro
E nada saber.
Tudo ver e nada crer.
(Fosse eu a surdez que pairasse no seio da imensidão deste barulheiro)
Mas calada a voz, berra a mão
E a mente surda tropeça e cai no chão.
Pequenos pedaços de mim dançam pelo asfalto
Ao som de uma música silenciada por um soluçar cabisbaixo.
Quando tudo se tenta complanar, tudo se esquiva e nada se encontra.
Nada vejo, o paroxismo sentimental confere-me uma paisagem cenosa.
É hora de tudo crer.
(Houvesse outro remédio)
Que se foda o Kant, que se foda o Descartes, que se foda o Sócrates,
Porque nada inibe a vontade, porque nada é intencional,
Porque o relógio quer rodar no sentido anti-horário,
Porque tudo é latebroso e nada é certo,
Porque tudo quanto que me incrassa o coração e me combure a carne
É concolor e me compele a necessidade de o menear de mim.
Porque eu não sou Caeiro e penso.
Porque eu sou dois: Alma e Coração.
Um deles se acidentará.
Que seja o coração porque a alma é eterna e descinge-se a toda a parte.
Que seja a alma porque só existe um coração e se se desdoura tudo fica pobre e incompto.
(Puta que pariu estas retóricas das três da manhã feitas a ouvir duas gotas de suor a cair pelo rosto da marioneta de Ian Curtis)
Que se foda a alma e que se foda o coração,
Porque os céus são grandes e aqui tudo é pequeno,
Porque
In heaven
Everything is fine
You got your good thing
And I’ve got mine,
Porque nos céus tudo é incorpóreo.
Fosse o céu a Terra,
Que a Terra se nidificava em mim.
Tudo em mim é espuma em abundância e se dissipa com o vento.
Porque o presente é uma rajada de vento
Futura de um pretérito perfeito,
Cujo alento se resume ao intento de destruir o que já foi feito.
Mas chega de utopias,
Porque não adianta querer luarejar a vida
De quem é lucífugo.
Se nem o cego aprimorou o ouvido e
Se o estuque caiu e ninguém varreu o chão,
Resta esperar que o vento sopre os pós, levante poeira,
Cegue o surdo.
Porque eu penso e sinto,
Não sou Caeiro, sou alma e coração,
E o tempo não existe.
Sou um conjunto de ideias vomitadas,
Por uma boca nómada
Onde todas as filosofias estão radicadas.
Circundada pelo ócio,
Ensopada pela vontade,
Exsurge-se-me a vontade de tudo abecedar.
E fosse o mundo um quadrado não explanado
Desvanecendo-se na vontade de ser achado.
(Assim giraríamos em linhas rectas, tal eco, tal eternidade)
E fosse o mundo o vácuo, que eu me calava
Só para te ouvir com os olhos.
(Pascendo-me nos céus, tal beleza)
E fosse o mundo tu e eu, mais nada,
Onde nenhuma metafísica minha estivesse errada.
(Tal utopia, tal cegueira. Paixão, essa, por inteira)
Mas tudo o que escrevo estropia-se no espelho.
Como um tiro falhado,
Sou poeta errante,
Estatuado,
Com ar de navegante,
À espera que a minha bala penetre o peito
De quem me causa deleito.
Sentimento abinício revela-se um esquisso.
Exumo tudo o que penso
Escavacando ao paroxismo do desalento.
Ego abúlico revela-se ábio
E nidificando-se em ti
Quer vida.
Agora, pasmo,
Chora, escondido na sombra de te ter luarejado.
(Pena que seja lucífugo)
Fosse o mundo o meu vómito.
Quero crer-me nele
E abluir pensamento.
Quero descrer-me que o seu motor
É como o vento,
Ora contra, ora a favor do nosso movimento.
O meu coração é um balão
Que anseia por uma corrente de ar
Desde que os meus olhos em ti foram chocar.
Como crer não é ser, mantive-o ábdito e abscôndito até agora.
Mas desde o momento em que uma abentesma me veio relatar que,
Lá fora,
Dançavam árvores acárpicas asfixiadas na sua tristeza de terem estropiado aquilo que as embeleza,
Que ele tem vindo a inchar.
Abaloaste-me o coração sem me explanar o seu porquê.
Recorreste ao teu estro com palavras caladas pelo teu olhar eufémico de me querer causar excídio amoroso.
Chegou o ar,
O balão está amarrado por um fio. E o vento sopra, sopra tempestuoso.
Vou-vos ser sincero: Não tenho feito a barba porque amedronto-me com a possibilidade da gillette me assassinar. É essa a mais pura e cruel das verdades, não tenho jeito para aquilo.